De todos os dias essa foi a noite mais longa.
Os braços demarcados por agulhas se agitavam pelos vãos do
lençol, o rosto pálido observava as figuras desenhadas na parede pelos resquícios
de luz que sobrevivia a escuridão. Os ouvidos, aguçados, registravam os gemidos
da noite, os sussurros de portas e janelas que lutavam contra a ventania da
madrugada.
A cada movimento dos ponteiros o corpo debilitado agitava-se
com as constantes oscilações de sístole e diástole do seu coração e afligia-se
cada vez mais que a fênix pousava em sua mente.
Os tons escuros do céu diminuíam no mesmo compasso em que o
pássaro se tornava cinza.
Os dedos dos pés alisavam o algodão da coberta e os olhos
negros da fênix seguiam o movimento do corpo.
As penas se desmanchavam feito trigo e se espalhavam pelos
dendritos e axônios se estendendo pelas conexões nervosas.
Encolheu o corpo em posição fetal, tentou não visualizar a
ave, mas ela insistiu, mesmo já sem asas, rastejando pelo córtex cerebral invadindo
as estruturas límbicas e picando os componentes da emoção. Foi perfurando cada
sentimento...
A fênix se dissolveu, deixando o meu corpo exposto aos
primeiros raios de sol completamente nu, sem vestimentas de desejo, de medo, de
amor.
Sabrina Stolle
Imagem obtida da internet.
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