terça-feira, 19 de novembro de 2013

Imortal



  De todos os dias essa foi a noite mais longa.
  Os braços demarcados por agulhas se agitavam pelos vãos do lençol, o rosto pálido observava as figuras desenhadas na parede pelos resquícios de luz que sobrevivia a escuridão. Os ouvidos, aguçados, registravam os gemidos da noite, os sussurros de portas e janelas que lutavam contra a ventania da madrugada.
  A cada movimento dos ponteiros o corpo debilitado agitava-se com as constantes oscilações de sístole e diástole do seu coração e afligia-se cada vez mais que a fênix pousava em sua mente.
  Os tons escuros do céu diminuíam no mesmo compasso em que o pássaro se tornava cinza.
  Os dedos dos pés alisavam o algodão da coberta e os olhos negros da fênix seguiam o movimento do corpo.
  As penas se desmanchavam feito trigo e se espalhavam pelos dendritos e axônios se estendendo pelas conexões nervosas.
  Encolheu o corpo em posição fetal, tentou não visualizar a ave, mas ela insistiu, mesmo já sem asas, rastejando pelo córtex cerebral invadindo as estruturas límbicas e picando os componentes da emoção. Foi perfurando cada sentimento...
  A fênix se dissolveu, deixando o meu corpo exposto aos primeiros raios de sol completamente nu, sem vestimentas de desejo, de medo, de amor.

Sabrina Stolle


Imagem obtida da internet. 


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