quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A minha mente tem borbulhado, porém os rascunhos da mente permanecem em branco... Peço desculpas aos leitores, em breve novos borrões e manchas de grafite surgirão nas folhas que se descolam da mente e voam...




Palavras gotejam pelo corpo
Escorrem da mente até cada célula,
A arquitetura das letras desmonta-se
Um emaranhado de voz que se transforma em formas geométricas
Símbolos que eclodem nos poros
Vazam pela epiderme
Percorrem manchando o corpo de sinestesia.
Mãos que borram o papel de poesia.


Sabrina Stolle.

sábado, 16 de agosto de 2014

Um sábado vestido de liberdade


Os pés descalços arriscavam sentir as texturas da Terra.
Os óculos pareciam desajeitados na face
Embaçados pelas gotas de chuva que lavavam a cidade, a alma.
O casaco de mangas curtas escondido no fundo na gaveta lhe caiu muito bem.
Os cabelos molhados, colando na face, eram a sua melhor maquiagem.

E o dia frio e chuvoso,
Embalado pela mesma música, como uma vitrola viciada, desatava os nós
Salvavam o corpo de si mesmo.
Libertava um ser comprimido por si
Esmagado por um relógio marcado por compromissos rotineiros.

A chuva aumentava, o tempo passava e as mordaças invisíveis se dissolviam.
Descolavam do corpo os pedaços do mundo colocados durante a semana.
O vento cortava, dilacerada os espaços que ficavam

Um ser nu, desprovido da rotina,
Pronto para ser consumido pela monotonia, pela nostalgia.
Por tudo aquilo que surge quando as armaduras são retidas,
Quando o corpo veste as cicatrizes e tudo aquilo que tem dentro do coração.

Sabrina Stolle
 
Inspirações: música “temporada das flores” Leoni,
Dia chuvoso
E tudo aquilo que amanheceu dentro de mim.

A crônica que nasceu na psicologia

Produção feita para o auto retrato da matéria de psicologia da personalidade.




Eu acredito que a vida possa ser representada por diversas metáforas. A vida pode ser comparada a uma árvore, cada pessoa vai fixar suas raízes de formas diferentes e as posições dos galhos e as quantidades de folhas vão depender das tempestades, dos dias de sol e chuva que surgirão ao longo da vida. Tem árvores que são maiores e outras menores. Assim como também há árvores com frutos e outras sem. Árvores floridas o ano todo, outras somente em alguns períodos e outras sem. Tem árvore que é casa de passarinho, tem árvore que é riso de criança, tem árvore que é solidão, paisagem de deserto.
Tem árvore que nasceu em Berlim, tem árvore que nasceu na China. Tem árvore que nasceu em jardim, tem árvore em nasceu em beira de estrada.
A minha árvore é um pouco de tudo, uma mistura dos desafios e da beleza de cada estação. Uma adaptação das circunstâncias e consequências dos dias. Tem flores, tem frutos. Tem balanço e casa de passinho. E também, às vezes, é só madeira tentando alcançar o céu.
A vida também pode ser representada por vagões de trem. Tem vagões que são limitados a circular só pela cidade. Tem vagão que viaja o mundo, tem vagão que carrega de tudo.  Tem vagão que tem muita bagagem, tem vagão que tem pouca. Tem vagão com tinta fresca, tem vagão esquecido na estação. Tem vida que já fugiu da rota, tem gente que já mudou e se reinventou. Tem vida limitada, tem vida arriscada. Tem vagão que circula de hora marcada. Tem vagão de carga, tem vagão a passeio.
O meu trem possui vagões de cores diferentes que seguem a rota da rotina, mas que às vezes, escapam para os trilhos da fantasia. A minha vida circula pelos interiores, por tudo aquilo que as palavras não expressam... O meu trem é sinestesia.
Dentre todas as metáforas a que eu mais gosto é a vida vista como uma tela em branco.
Um quadro novo que com o passar do tempo vai recebendo respingos de tintas, desenhos bem arquitetados. Imagens remodelas, refeitas. Um mar, um campo ou somente rabiscos. Uma camada de tinta em cima, um recomeço. Alguns optam por molduras, por cores claras ou fortes. Alguns preferem misturar ou seguir a tonalidade que determinados momentos demandam.
E a vida é assim, uma tela ansiosa por ser preenchida, por ser sentida, vivida. Uma tela com características a serem acrescentadas e outras retiradas. E eu prefiro que ela seja sempre colorida. Por mais que alguns traços não combinem mais e outros sejam borrados pelos imprevistos de se estar vivo sempre haverá  tinta nova para retocar, para tentar de novo e de novo. 

Sabrina Stolle 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Uma rachadura no invisível



O mundo desagua feito um rio sem correnteza
Desaba sobre o chão sem percurso,
Escorre pelas mazelas, pelas periferias
Pelos buracos do coração.
É como uma peneira que tenta separar as estrelas do céu.
Vai se espalhando pelas esquinas, pelo Japão, por Mississippi
Escorre pelos pulmões, pelas artérias por cada célula.
Não tem nascente e nem mar, faz meu coração latejar.
E desemboca na alma, percorre os lábios grita ao mundo,
Uma voz sem rumo...
Ecoa pelos cantos,
Sem quatro paredes colide com o trem
Viaja zunindo nos ouvidos dos passageiros.
Mistura-se ao vento,
Poeira que vem vindo de longe pelos escapes do vagão
Avista sua presa certeira: menina do vestido de seda.
Competindo com a velocidade da luz atira-se nas partículas de ar
Colide com o vestido amarelo, desatando os fios
Rompendo os nós entre o algodão
E vai costurando a pele com tudo aquilo que o mundo expeliu...
Parte novamente sem rumo,
Desemboca em mim.

Sabrina Stolle

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Desatino



Abriu os olhos sem pestanejar
Não reconhecendo nenhuma parte daquele corpo refletido nos espelhos.
Tentou tocar os fragmentos,
As luzes dissolviam a pele.
Gotículas de cristais emanavam da sala refletora...
Os dedos alisavam as paredes espelhadas,
O corpo deslizava como pétalas pelo vidro,
Absorvendo, tomando para si o similar desconhecido.
O calor do seu corpo entrava em atrito com os cristais
Cacos de vidros eternizados.
A alma aquecia os espelhos com cada toque
Com cada caricia
Matéria fria agora quente...
Trincava a vida, rompia as ondas bagunçava o ar
Movimentos abruptos e suaves contra a própria imagem
Fagulhas de vidros dilaceravam o eu e o outro
Uma verdadeira simbiose letal. 

Sabrina Stolle. 

domingo, 1 de junho de 2014

A última estação


O corpo oscilou como uma folha que se depreende do ganho. Suas sandálias cor caramelo já haviam percorrido aquele trajeto dezenas de vezes, mas sua mente não. Tinha o coração viajante, fazia do mesmo percurso países e décadas diferentes. Tropeçou.
Levantou um pouco desajeitada, o cabelo bagunçado, meia fina rasgada. Os passos cambaleantes seguiam os rastros do chão. Uma linha férrea enterrada por poeira de saudade, por poeira de sentimentos. Podia ouvir as notas do metal aproximarem, mas não hesitou em mudar de caminho. Sentia o corpo estremecer, rachar como tinta de tela esmagada. A estampa do seu vestido dançava com o vento.
As lembranças desprendiam do corpo à medida que o trem aproximava-se. Espalhando pelo ar sorrisos, lágrimas canções de ninar. Uma fotografia distorcida. Um conto sem fadas.
Os átomos do automóvel deslizaram pelas suas costas, penetraram na pele e na alma. Acariciaram os cabelos, desprenderam as fitas de cetim. Elevou ao céu seu coração viajante sem deixar vestígios.

Sabrina Stolle