segunda-feira, 23 de março de 2015

Desequilíbrio



Um véu sob seus pés
Partículas subiam e desciam
E ele, sobre o tecido fino enrijecia
Na tentativa de se manter vivo.

O véu flutuava no vazio
Carregando na estrutura frágil o corpo pálido,
Calado, imóvel.

Queda livre.
Fragmentos se dissolviam e ecoavam nas paredes invisíveis,
E quanto mais ecoava partículas ilusórias, sobre o nada, o corpo estremecia
Hora se desequilibrando:
O véu abaixando, esticando
Ameaçando partir.
Hora contraindo-se cada vez mais:
Estruturas ósseas e articulares se fundindo feitos dois corpos nus.

As partículas se movimentavam
Ríspidas, colidiam contra o corpo paralisado
Mergulhando em seu sistema
Absorvendo suas memórias e pensamentos até tocarem o véu
Molhando o tecido de saudade, de desejo, de emoções.

Goteja assim, do corpo sua existência.
E o que era rígido se tornava flácido
Braços que caçavam a consistência do seu eu
Introjetadas nas partículas que o perfuravam...
Em uma homeostase perfeita o corpo se direcionava ao fim da seda
Deixando nela impresso os seus últimos segundos de existência. 

Sabrina Stolle

quarta-feira, 11 de março de 2015

Olhos de Veneza



Duas esperas brilhantes pousaram sobre mim
Nem grandes e nem pequenas
Mistura de mar e céu estrelado: cor dissimulada.

Delas escorrem os meus segredos mais íntimos
Um verde que revela meu preto e branco e todos os borrões que a vida já imprimiu em mim.
Um emaranhado de traços simétricos que se desfazem quando cruzam com os meus...

Vazam delas cheiro de sorriso,
Gosto de mistério.

As pupilas permanecem fixas
Porém vultos dançam dentro delas
Posso até ouvir o ritmo da música
Sentir o movimento de cada passo...
Fecho meus olhos por um instante
E então, posso sentir as duas esferas acariciarem o meu corpo,
Queimarem as minhas estruturas...

Meus cílios eriçam e balançam como se um vendaval tomasse conta da minha face.
A alma vira sinestesia.

Meus olhos cerrados se abrem lentamente
As esferas descolam de mim
Rodopiam pelo ar
Meus dedos tentam tocá-las
Elas se dissolvem feito poeira
Cobrindo Veneza de saudade, de desejo.

Sabrina Stolle