segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Importuno



E eu que já nem sei mais aonde me encontrar
Puxo uma corda da cova do teu sorriso tentando me salvar.
É uma rima infame
Declaro sem pestanejar
Pois veja só você, com esse sorriso dilacerado!
Tão alto e tão vivo
Feito um navio de vela nova.
Que ignomínia, erraste a bruma do mar.
Venha cá, sem medo
Porque no vale do sol nascente não é o seu lugar.
Toda esta sua vileza tentando ser forte astuto!
Que calunia!
Vamos, leia de novo
Mais rápido
Mais veloz
Com mais voz!
E o tom baixa
Sinto a aspereza da sua pele
Uma boca quase sem articulação
Seus lábios fúnebres
Meus dedos tocam sem medo. 

Sabrina Stolle

Mais um rascunho brotou em mim



De repente, um som ecoou dentro de mim.
Meu corpo se encontrava imóvel, quase sereno se não fosse a perplexidade das cantigas e vozes que embalaram a noite.
Um ressonar entre sonho e pesadelo.
Meus cílios se puseram eretos e pude ver que o céu do meu quarto continuava com um branco homogêneo. Porém, meu corpo insistia em não se mover.
Já era dia, já era segunda feira e tudo parecia normal, menos dentro de mim.
Os ruídos que se perpetuavam me pareciam familiares. Eles pronunciavam sentimentos semelhantes a indagações que já habitavam o meu ser. Era uma espécie de renúncia aos dias atuais. Onde todas as coisas (ou quase todas, será?) são divididas entre favoráveis e desfavoráveis, útil e inútil, certo e errado.
Enquanto eu dormia visitei o mundo de Alice.  Era um mundo pequenino e lá viviam apenas um rei e um Buda, uma fada e uma bruxa. Era um espaço pequeno onde cada um e suas ações tinham sua devida importância. O meio termo era importante. Era necessário a astúcia do rei e a compaixão do Buda para que o equilíbrio ocorresse. Eram necessárias as cores da fada e as travessuras da bruxa para que o mundo de Alice pudesse crescer e aprender.
Do lado de fora da minha janela o mundo parece me assustar. Ele não cabe no meu coração.  Do lado de dentro o mundo de Alice flutua, mas ele não cabe em minhas mãos. E novamente a dicotomia aparecia...
Tentei me achar, levantei e me olhei no espelho. 

Sabrina Stolle.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Ambiguidade



Não me olha assim
Com esse olhar que me devora, por dentro e por fora.
É um caminho dissimulado.
Desatento nos vãos que correm os pés,
Mas atento ao cheiro da carne,
Sedento pelo pecado que habita a pele.

Cuidado com teus cílios, eles me dilaceram.
É uma escolha quase sem volta,
Avança sem pedir licença.

E esse suspirar dos teus olhos?
Eles me sufocam
Tem aroma de chuva e de choro.
Então você me encara, face a face:
Teus olhos me consomem...

Na mesma fração de tempo, ela dança
Deixando as alças do meu vestido escorregar.
Os dedos perdem o compasso
Tateiam as minhas costas com indisciplina
Seus olhos se aproximam ainda mais,
As mãos dela também.
Fazendo com que meus pés já não saibam se avançam para frente ou para o verso...


Sabrina Stolle.




sábado, 5 de dezembro de 2015

Quimera



Quimeras floridas
Audaciosas no seu jeito de ser.
Narinas de botão de rosas
Não exalam chamas nem perfume
E as asas varrem o chão.
É mostro é mitologia
É também textura de algodão. 

Sabrina Stolle.



 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sem título



Era uma poesia distraída
Escorregava entre um sorriso e um afago
Não tinha ritmo nem rima
Juntava luz com cor
Tom e pele.

Escrevia nas paredes
No lençol
Nas faces a sós
Era uma poesia viva.

Sabrina Stolle