terça-feira, 18 de agosto de 2015

Entre o Adeus e o Perdão



A água morna, típica de um dia de verão, tocava lhe a epiderme com a mesma intensidade que lhe tocara pela primeira vez naquela noite de inverno. Sentou-se de frente para o mar. O vento bagunçava lhe o cabelo como as lembranças lhe bagunçavam por dentro.
De perto as ondas quebravam agitadas em suas pernas, de longe o mar dormia sereno. Para se alcançar o novo é preciso passar pelo inicio voraz de um mar de ressaca. Caminhar sobre as águas sonolentas correndo o risco de despertar a quietude de um oceano distante que esconde sua beleza e perigos. E assim chegar a uma terra distante, talvez uma ilha agradável, desejável ou totalmente improvável. Talvez seja possível regressar, ou não.
São perdas, riscos e ganhos que só quem se arrisca a atravessar o mar que separa o adeus do perdão consegue compreender.
Dizer adeus não pode ser reduzido à ação de caminhar em um novo sentido e esperar que o tempo apague as marcas de seus passos. Dizer adeus não pode ser simplificado a um signo de cinco letras pronunciado olhando nos olhos de seu remetente ou não. Dizer adeus é mais que isto, significa ir embora não somente com o corpo e sim também com o coração. É mencionar o passado, quando for preciso, sem culpa ou culpados. É ver os objetos, cujo qual você fora presenteado, em cima da escrivaninha e não sentir saudades. É encontrar ao acaso uma fotografia ou um email trocado e não reviver o passado. É abrir um livro e dar de cara com uma dedicatória que um dia fora especial e nem por isto deixar de apreciar sua história. Quanto mais se tenta omitir as lembranças, mais tempo no passado se vive. Quanto mais às lembranças incomodam mais se evidencia a ida corporal, mas não a partida com o coração.
Dizer adeus, não significa esconder uma parte da sua história, vivências e aprendizados. Quando for possível se permitir olhar para trás sem magoas e carregar somente aquilo que servir de crescimento as águas que separavam o adeus e o perdão foram ultrapassadas. E atingir o perdão não remete perdoar as falhas do outro e todas as consequências de acontecimentos que não deram certo. Atingir o perdão remete a se perdoar, admitir seus erros. Aceitar o fato de ter, talvez, errado suas escolhas; de ter permanecido e prolongado sofrimentos por não saber ou não ter coragem dizer adeus.
Deslocar energias para perdoar o outro é ainda estar entre o adeus e o perdão, transcender esta fase e compreender que o perdão vem de dentro de si e não externamente ou voltado para alguém é amadurecer. E quanto isto ocorre, o novo por mais desafiador que seja torna-se belo.
A vida não é uma história homogênea e sim um mosaico de histórias. Fazer a seleção das melhores partes pode não ser a saída mais fácil. Talvez se esforçar para que as próximas peças do mosaico sejam mais suaves, cheias de amor e compaixão seja a saída.

Sabrina Stolle

Obs: Imagem da internet.