A água morna, típica de um dia de verão, tocava lhe a
epiderme com a mesma intensidade que lhe tocara pela primeira vez naquela noite
de inverno. Sentou-se de frente para o mar. O vento bagunçava lhe o cabelo como
as lembranças lhe bagunçavam por dentro.
De perto as ondas quebravam agitadas em suas pernas, de
longe o mar dormia sereno. Para se alcançar o novo é preciso passar pelo inicio
voraz de um mar de ressaca. Caminhar sobre as águas sonolentas correndo o risco
de despertar a quietude de um oceano distante que esconde sua beleza e perigos.
E assim chegar a uma terra distante, talvez uma ilha agradável, desejável ou
totalmente improvável. Talvez seja possível regressar, ou não.
São perdas, riscos e ganhos que só quem se arrisca a
atravessar o mar que separa o adeus do perdão consegue compreender.
Dizer adeus não pode ser reduzido à ação de caminhar em um
novo sentido e esperar que o tempo apague as marcas de seus passos. Dizer adeus
não pode ser simplificado a um signo de cinco letras pronunciado olhando nos
olhos de seu remetente ou não. Dizer adeus é mais que isto, significa ir embora
não somente com o corpo e sim também com o coração. É mencionar o passado,
quando for preciso, sem culpa ou culpados. É ver os objetos, cujo qual você
fora presenteado, em cima da escrivaninha e não sentir saudades. É encontrar ao
acaso uma fotografia ou um email trocado e não reviver o passado. É abrir um
livro e dar de cara com uma dedicatória que um dia fora especial e nem por isto
deixar de apreciar sua história. Quanto mais se tenta omitir as lembranças,
mais tempo no passado se vive. Quanto mais às lembranças incomodam mais se evidencia
a ida corporal, mas não a partida com o coração.
Dizer adeus, não significa esconder uma parte da sua
história, vivências e aprendizados. Quando for possível se permitir olhar para
trás sem magoas e carregar somente aquilo que servir de crescimento as águas
que separavam o adeus e o perdão foram ultrapassadas. E atingir o perdão não
remete perdoar as falhas do outro e todas as consequências de acontecimentos
que não deram certo. Atingir o perdão remete a se perdoar, admitir seus erros. Aceitar
o fato de ter, talvez, errado suas escolhas; de ter permanecido e prolongado
sofrimentos por não saber ou não ter coragem dizer adeus.
Deslocar energias para perdoar o outro é ainda estar entre o
adeus e o perdão, transcender esta fase e compreender que o perdão vem de
dentro de si e não externamente ou voltado para alguém é amadurecer. E quanto
isto ocorre, o novo por mais desafiador que seja torna-se belo.
A vida não é uma história homogênea e sim um mosaico de
histórias. Fazer a seleção das melhores partes pode não ser a saída mais fácil.
Talvez se esforçar para que as próximas peças do mosaico sejam mais suaves, cheias
de amor e compaixão seja a saída.
Sabrina Stolle
Obs: Imagem da internet.