domingo, 11 de outubro de 2015

Joana na corda bamba

Vivia sobre uma corda retilínea
Remendos de bandeiras de festa de São João
Pedaços de cadarços de pés crescidos.
Um chão feito de laços de presentes descartados
Fitas de cetim de vestidos esquecidos no fundo do armário.
Dejetos de sentimentos embaraçados
Emaranhado de saudade, adeus e passado.

E por mais assimétrico que o fio fosse ela caminhava sem medo.
As pernas dançavam no ritmo do vento
Que assoprava fazendo graça
Assoviava canção de primavera.

Ela lá de cima sorria
Enfeitando as estrelas
Colava um riso tímido em uma
Um olhar inocente em outra
E as vozes da noite e de Joana se entrelaçavam
Enlace de pernas e asteróides
Embaralhava as oscilações da superfície da lua com seus cabelos
Os dedos acariciavam os vãos entre a escuridão e a luz
Era um altar que unia ela e a lua de uma forma singular.

Sabrina Stolle.




Imagem: alijardine