Uma toalha de bordado gasto cobria a mesa.
O prato e talheres deixavam escapar a mancha no tecido, ocasionada
por ceias de domingo: timbres de metais que colidiam com risadas frouxas.
Nas prateleiras livros e periódicos tentavam cobrir portas
retratos maltrapilhos que guardavam um tempo feliz.
E a melancolia escorria pela casa. Paredes com rabiscos que resistiram
aos adstringentes.
Um quarto de papel de parede desgastado a esquerda. No lado
oposto uma boneca esquecida no fundo do armário de um cômodo vazio.
A luz de um abajur empoeirado iluminava o seu recinto.
Chovia lá fora, chovia dentro da cara franzida.
Carne amargurada vestida com um jeans batido.
A blusa com os botões cerrados até em cima tentavam conter a
saudade que guardava por dentro.
Mastigava a comida sem pressa. Tentativa de tardar o dia
seguinte.
A noite chegava de mansinho, mas também se ia
silenciosamente após uma piscada de olhos prolongada. E de repente, já era 1980
de novo. Mais um ano sem ela, mais uma tentativa de adiar o encontro com a dor.
Sabrina Stolle.