terça-feira, 10 de maio de 2016

Reflexões sobre a finitude

De vagar, menina.
Com passos acelerados você perde o ritmo da vida...
Não faça o canto dos pássaros ser descompassado com suas passadas,
Não permita que seu olhar seja desproporcional ao ritmo do anoitecer.
A rotina nos engana... Por muitas vezes desejamos que o dia passe rápido, que as horas voem para chegar logo o expediente do trabalho. Contamos os dias para o próximo feriado, ansiamos por mais um natal por mais um ano novo cujo qual repetiremos praticamente as mesmas coisas e degustaremos a mesma ansiedade por um futuro que nunca chega.
Vivemos esperando a hora em que estaremos prontos para o novo. Acreditamos em um sinal que nos dirá quando mudar e quando encarar nossos reais objetivos e sonhos. E neste aglomerado de expectativas e sentimentos nos esquecemos da finitude da vida...
Sim, nossa vida tem um início meio e fim.  O tempo de cada ciclo é incerto. Mas novamente preferimos acreditar em ideias que nos são introjetadas sem que nos dê espaço para questionar aquilo que nos é imposto como verdade. Sendo assim, acreditamos fielmente que o início da vida se dá pelo nascimento e infância, o meio da vida pela juventude e vida adulta e o final da vida pela velhice seguida da morte.
Aderimos também, sem nos questionar na maioria das vezes, ao ideal de que devemos estudar se quisermos ter um futuro promissor. E não se trata de estudar qualquer ciência, precisam ser aquelas listadas com maior prestigio social e maior garantia de um futuro financeiro promissor. Acreditamos também nos papéis sociais de gênero, no casamento e a impossibilidade do divorcio ou um filho gerado fora de tal padrão.
Caro leitor, não tome este meu discurso como apologia a determinadas crenças e nem o que discorro como as verdades que acredito.  Sei que está acostumado com minhas poesias, porém senti a necessidade de discutir a vida e seus modos de ser e agir no mundo.
Ser humano é função que exige muitos de nós. Há muitas formas de ser em nosso mundo e para cada uma delas temos padrões de como cada uma deve ser. Há o protocolo de como ser um animal selvagem, como ser animal domestico, de como ser inseto, de como ser ave ou répteis. Há regras de como ser nos vários nichos existentes. Há listado o comportamento de cada ser vivo que existe em nosso planeta. E para ser um humano não é diferente.
Quando qualquer tipo de vida foge a sua regra ela passa a ser condenada.  Reconheço que nos tempos atuais muitas coisas têm se modificado, mas percebo ainda a dificuldade de exercer a compaixão ao próximo, a falta do exercício de mais ouvir do que dizer. Exemplos não nos faltam. Há ainda circulando com muita frequência nas mídias sociais atrocidades feitas com pessoas que não seguem o padrão, a violação de direitos do livre arbítrio e até mesmo a privação de como se relacionar com seu próprio corpo.
 Mas meu objetivo com este texto não é levantar as inúmeras questões que ainda hoje causam violência, guerra, morte e sofrimento. E sim tentar mostrar que não importa qual seja a sua crença, qual seja a sua maneira de ser e agir neste mundo, todos nós estamos suscetíveis a finitude a qualquer momento.
Tais pensamentos já me acompanham há certo tempo, porém tenho os vivenciado na prática diariamente.  Sei que você, caro leitor, deve estar confuso por isso irei lhe explicar: sou estudante de psicologia, trabalho em três estágios diferentes. Em um deles atendo pessoas na sala de espera de uma clínica de fisioterapia, não se trata de psicoterapia e sim um espaço de escuta para que as pessoas possam compartilhar seu processo de adoecimento. Em outro local atendendo com o mesmo dispositivo de espaço de fala e escuta os pacientes em processo de hemodiálise e por último faço estimulação precoce em bebês institucionalizados.  A cada encontro tenho aprendido que meus pacientes têm muito mais a me oferecerem do que eu a eles. Entretanto sou suspeita a falar qualquer coisa relacionada a esta profissão por ser uma das minhas grandes paixões. Vou voltar ao objetivo deste texto e deixar para discorrer sobre a psicologia e minhas experiências em outro momento. Retomando a finitude da vida... tenho percebido diariamente que pessoas de várias crenças, religiões, histórias de vida e padrões financeiros são tomados pela dura realidade de sermos seres frágeis e incapazes de controlar tudo que envolve nossa vida.  Assim como também temos uma capacidade extraordinária de nos adaptar e reescrever nossa história.
Finalizo este texto com um pedido: aproveite cada dia seu cada momento de sua vida. Aproveite para errar também, para parar ou acelerar quando sentir necessidade. Não há regra de como melhor aproveitar a vida, mas existe a possibilidade de ouvir seu coração. 

Sabrina Stolle